A Fé nos vem de cima; é dom de Deus. |
Pessoal, o programa para a formação de Crisma nos propõe, como primeiro tema, a questão da Fé. Como vimos, ter fé significa acreditar em algo. Esta atitude nos é muito comum. Dizemos que acreditamos nos nossos familiares, nos repórteres, no que dizem os livros ou no que nos ensinam nas escolas. Em todos esses casos, ter fé significa crer na palavra de alguém.
Quando se trata de ter Fé em Deus, a coisa complica um pouco, pois não temos conhecimento de Deus a não ser de modo indireto. Creio que nenhum de nós ouviu a voz de Deus na hora de dormir ou em outra ocasião. Como, então, ter fé na Palavra de Deus sem tê-la escutado? Não adianta dizermos que nos é suficiente ler a Bíblia, pois a Escritura não veio pronta do céu, como parecem pensar alguns. O que veio do céu foi uma pessoa, não um livro. Esta pessoa foi Nosso Senhor Jesus Cristo.
"O Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai" (Jo 1,14). Este Verbo do qual João fala é Jesus. Ele veio a nós e viveu conosco, caminhou conosco, e nos ensinou a verdade sobre Deus. Vejamos o que Ele diz aos Apóstolos: "Já não vos chamo servos, mas amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai" (Jo 15,15). São João nos diz, ainda: "Ninguém jamais viu Deus. O Filho Único, que está no seio do Pai, foi quem o revelou" (Jo 1,18).
Portanto, se fé significa acreditar na palavra de alguém, seria preciso, para ter fé em Deus, acreditar na palavra d'Ele. Nós conhecemos esta palavra através de Jesus Cristo que, como vimos, veio até nós para nos ensinar.
Ter Fé em Deus, portanto, não significa sentir coisas ou imaginar conceitos a respeito de Deus. Não basta que tenhamos uma idéia pessoal d'Ele. Não há nenhuma garantia de que essa idéia seja verdadeira. Para que conheçamos a Deus de verdade, é preciso compreender as coisas que Jesus falou de Si mesmo e do Pai. É importante que a gente também entenda que não é suficiente imaginar coisas ou produzir sensações no íntimo da alma. Nada disso é a Fé.
Chegamos, então, a um outro ponto. Tudo bem que Jesus tenha falado de Si, mas que garantia temos nós de que essa mensagem não se distorceu no decorrer dos séculos? Respondamos do seguinte modo: sabemos que Jesus é Deus e, como tal, veio se comunicar a toda a humanidade. Se isso é verdade, então seria necessário que a Verdade que Ele veio trazer chegasse a todos povos, em todas as épocas, sem erros nem invenções. Como conseguir isso? Jesus sabia que, se apenas deixasse a sua mensagem solta, ela se modificaria, conforme as culturas e conforme as épocas. A única forma de garantir que ela permaneça a mesma é estabelecer uma autoridade que a guarde. E Jesus faz isso. Vejamos o que Ele diz aos Apóstlos: "Ide e ensinai" (Mt 28,19). Ora, quem ensina é porque sabe. Os Apóstolos foram os mais íntimos de Jesus, aqueles que estiveram com Ele em todos os momentos. O conheciam, portanto, profundamente e sabiam do que Ele falava. Jesus lhes ordena, então, que ensinem a todos aquilo que aprenderam. Pressentindo que algumas pessoas não iriam aderir à pregação dos Apóstolos, talvez pensando que poderiam ser cristãos sem isso, Jesus diz aos seus íntimos: "Quem vos ouve, a Mim ouve; quem vos rejeita, a Mim rejeita". (Lc 10,16)
Aderir a Cristo significa, portanto, ouvir e obedecer aos Apóstolos que tinham recebido a autoridade, dada pelo próprio Jesus, de pregar e ensinar em Seu nome. A doutrina que era pregada por eles era tão importante para que os cristãos pudessem conhecer a Jesus que S. Paulo vai chegar a escrever: "Se alguém vos pregar um Evangelho diferente do que vos temos anunciado, ainda que seja um anjo descido do céu, seja ele excomungado" (Gl 1,8). Por que todo esse rigor? Porque é pela Fé que conhecemos a Deus. Se, porém, a fé é equivocada, isto é, se está errada, a nossa compreensão de Deus também vai ser falsa. Jesus quer, porém, que nós o conheçamos, pois nisto está toda a nossa realização, conforme João escreve: "Ele é a luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem" (Jo 1,9). Se nós não conhecemos a Deus, nós não somos felizes, não nos realizamos. E nós não conheceremos a Deus se tivermos uma fé errada. Daí a importância da fé.
Essa pregação dos apóstolos será o início da Igreja Católica e, no decorrer dos séculos, é ela quem vem guardando a Verdade dos erros e a ensinando aos povos, conforme a ordem de Cristo. Jesus, sabendo que alguns poderiam afirmar que a Igreja se perverteu em alguma época, profetizou a fim de que todos confiemos nela: "As portas do inferno não prevalecerão contra a Minha Igreja" (Mt 16,18). Se assim é, nós podemos ter absoluta segurança no que a Igreja ensina.
Quando, portanto, nós nos deixamos ensinar pela Igreja e aderimos à sua doutrina com nossa inteligência e vontade, Deus mesmo gera em nós a virtude teologal da Fé. Esta virtude é dom de Deus, isto é, não pode ser produzida por nós mesmos (Ef 2,8). No entanto, Deus a dá quando encontra na alma as devidas disposições. E quais são estas disposições? Justamente a submissão à doutrina da Igreja. "A fé vem pelo ouvir" (Rom 10,17).
É importante compreender todo esse contexto: a fé é dom de Deus, mas nós a recebemos quando nos abrimos. Quando Deus nos concede a virtude da Fé, Ele nos faz conhecer a Verdade que é Ele mesmo (Jo 14,6). É só conhecendo a verdade sobre Deus que podemos ter uma autêntica vida espiritual. Portanto, a fé é muito mais racional que sentimental.
Poderíamos, enfim, dar a seguinte definição da fé: "é um dom dado por Deus que nos permite conhecer a verdade sobre Ele, quando nos submetemos à doutrina católica". Sem a Fé, portanto, não conhecemos a Deus. Paulo nos diz também que sem a Fé ninguém agrada a Ele (Hb 11,6).
A Igreja nos ensina que a nossa vida tem por finalidade "conhecer, amar e servir a Deus". Vejamos que conhecer é o início. E nós só podemos conhecer a Deus pela Fé.
Quaisquer dúvidas, perguntem.
Que a Virgem Santíssima vos conduza. Que Deus vos guarde.
Fábio.